quinta-feira, 6 de junho de 2024

Transparência

 


Já fui mais generosa.

Já olhei as pessoas com olhos mais bondosos.

Não sei se o tempo, ou as pessoas, ou eu mesma mudei.

Hoje me percebo distante

Indiferente

Às vezes até insolente

 

Diante da vida insolente,

Dos outros indiferente

Com suas opiniões,

Julgamentos,

Cobranças.

 

Extravagante

Aquilo que o tempo desvela...

Revela o que está nas profundezas,

Nas vísceras.

 

O que vem à superfície

Por vezes não é o melhor de nós,

Mas é o mais cristalino,

Hialino

 

Duro como vidro

Transparente como cristal


quinta-feira, 16 de maio de 2024

Encontros do início com o meio e o fim.

 


Um dia pode nos trazer inúmeras surpresas...

Revelar o que por certo não esperamos.

Um dia pode encerrar muitos encontros,

Cada um deles com suas riquezas

 

Um ciclo pode se encerrar sem muitas surpresas,

Mas se tivermos de olhos e coração abertos,

Por certo podemos reconhecer os presentes

Escondidos desde o amanhecer.

 

Como um dia é a vida:

Vamos amanhecendo aos poucos

Trilhando nossos caminhos no escuro ainda,

Aproveitando a fresta de luz que se descortina.

 

O sol a pino nos traz vigor.

Não medimos a força, por que não nos falta.

Enfrentamos a vida sem perceber.

 

Quando nos damos conta

Estamos no entardecer,

Cheio de cores a esmaecer.

 

Mas nosso olhar se torna atento.

Não queremos mais correr.

Aproveitamos cada momento

De cada encontro que vamos ter...

 

Esse encontro...

 

Olhando nos olhos por vezes atentos,

E outras extenuados por noites não dormidas

Vemos sonhos que estão estampados

Nesses olhares curiosos e inseguros.

 

A busca por algo incerto

Por vezes perto

Por vezes distante...

 

Cada ser procura,

Se lança na dúvida:

Valerá a pena?

 

Sempre vale...

 

Vale aprender.

Vale ensinar.

 

Cada um ensina algo sobre ser.

Tudo é aprendizado, é crescimento.

 

Mas crescer dói.

Romper o casulo é sempre dolorido.

Conhecer-se dói.

O espelho sempre surpreende.

Mostrando o que vai lá dentro.

 

E assim, nossa jornada vai sendo tecida

Com as tramas dos fios dourados dos encontros,

Com os que estão no início, no meio e no fim.

 

terça-feira, 23 de abril de 2024

Minhas viagens

 




As viagens que já fiz para dentro e fora de mim

Estão encravadas na alma errante

Saltitantes imagens aparecem na mente

E descansam no coração

 

As viagens para dentro trazem paz e tranquilidade

São conhecimento, dor e calma

São loucura, amor que acalma

São buscas, encontros e alteridade

 

As viagens para fora, ah essas!...

Gravadas nos olhos do coração

Com aromas, sabores e desejos

Desafiando todos os sentidos

 

Quero mais, sempre mais!

Todas as viagens são benvindas.

Tudo que vivi e viverei eu quero.

Tudo que vivi e viverei sou eu...

 

Deixarei em algum lugar remoto

Para quem quiser ter acesso

Para quem quiser se aventurar

E buscar, buscar, buscar...

sábado, 1 de julho de 2023

Um certo Porto Seguro

 


No pôr do sol em Porto,

No cais do porto,

O sol cai devagar.


O céu se mescla de mar

E me faz amar cada vez mais....


Vejo a noite chegando de mansinho

Pintando de prateado o rio

E de furta-cor o céu.


Eu me demoro como num suspiro

Olhando de longe o céu e de perto a lua.


Respirando no ritmo do farol, sempre verde,

E no balanço lânguido das embarcações,

Nem me dando conta das risadas felizes de quem te visita


Esse Porto que me abraçou, 

me acolheu e me segura...

Por certo não é tão seguro para jovens pretos.

Para brancos velhos, talvez...

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Vale Profundo

 


Monstro silencioso que nos resseca por dentro,
Seus tentáculos atingem nossa mente, coração e olhos,
Enevoa nossos sentidos tingindo de cinza nosso olhar.
Suas garras fincadas no coração apertam o peito sem cessar,
Tirando o fôlego e fazendo fugir o sono ao deitar.

Como vens sorrateira, fera ignóbil!
Instala-se sorrateira, quase imperceptível 
Desbotando as cores vívidas outrora vistas.

Paralisa os movimentos que antes eram dança.
Pesa como chumbo o que antes eram asas.
Torna silente aquilo que soava festa.

Fiz eu por merecer tão triste castigo,
ou apenas destino inexorável é esse fardo?

Não sei. Só sigo levada submersa por essa longa vaga-vida.








segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Vida, minha vida (publicado no Livro Escritas Sororais - Mulheres da Região Mater do Brasil: org de Marilia Martins)

 


Saio em busca de um alvo, objetivo.

Encontro caminhos, sozinhos.

Rodopio em um turbilhão, paixão.

Viro terra, fera, 

Encantada, assolada,

Com um rebento, ao relento.

Caio em voo livre, atada.

Volto e me remendo, gemendo,

Cheia de dores, amores.

Consigo o que penso ser paz,

Capaz...

Entrego tudo, me desnudo.

Quebro inteira, besteira.

Volto e me recomponho, me exponho.

Aos poucos saio, me levanto e caio,

Novamente me levanto, acalanto.

Descubro novo caminho, um ninho

Feito de gestos honestos, 

Poucas palavras, transformadas,

Sem paixão, combustão

Frágil contato, imediato,

Profundo, no entanto,

Por partir da descoberta 

Que me conheço hoje

Não mais em pedaços, 

Mas inteira.


Se...




Se minhas pernas fossem norte

Eu teria calçado os pés  de espinhos.

Se meus olhos fossem vendas

Teria eu visto névoas no horizonte. 

Se minhas costas houvessem se curvado

Os fardos seriam os vencedores.

Escolhi todavia, a bússola sem agulha, 

Tatear com o coração, 

E deixar nascer asas pra voar.