terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Vale Profundo

 


Monstro silencioso que nos resseca por dentro,
Seus tentáculos atingem nossa mente, coração e olhos,
Enevoa nossos sentidos tingindo de cinza nosso olhar.
Suas garras fincadas no coração apertam o peito sem cessar,
Tirando o fôlego e fazendo fugir o sono ao deitar.

Como vens sorrateira, fera ignóbil!
Instala-se sorrateira, quase imperceptível 
Desbotando as cores vívidas outrora vistas.

Paralisa os movimentos que antes eram dança.
Pesa como chumbo o que antes eram asas.
Torna silente aquilo que soava festa.

Fiz eu por merecer tão triste castigo,
ou apenas destino inexorável é esse fardo?

Não sei. Só sigo levada submersa por essa longa vaga-vida.








segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Vida, minha vida (publicado no Livro Escritas Sororais - Mulheres da Região Mater do Brasil: org de Marilia Martins)

 


Saio em busca de um alvo, objetivo.

Encontro caminhos, sozinhos.

Rodopio em um turbilhão, paixão.

Viro terra, fera, 

Encantada, assolada,

Com um rebento, ao relento.

Caio em voo livre, atada.

Volto e me remendo, gemendo,

Cheia de dores, amores.

Consigo o que penso ser paz,

Capaz...

Entrego tudo, me desnudo.

Quebro inteira, besteira.

Volto e me recomponho, me exponho.

Aos poucos saio, me levanto e caio,

Novamente me levanto, acalanto.

Descubro novo caminho, um ninho

Feito de gestos honestos, 

Poucas palavras, transformadas,

Sem paixão, combustão

Frágil contato, imediato,

Profundo, no entanto,

Por partir da descoberta 

Que me conheço hoje

Não mais em pedaços, 

Mas inteira.


Se...




Se minhas pernas fossem norte

Eu teria calçado os pés  de espinhos.

Se meus olhos fossem vendas

Teria eu visto névoas no horizonte. 

Se minhas costas houvessem se curvado

Os fardos seriam os vencedores.

Escolhi todavia, a bússola sem agulha, 

Tatear com o coração, 

E deixar nascer asas pra voar.